Dois mil e quatro. Casa da Camila, na frente da Oca, Cruz Alta. Algumas gurias da quinta série do ensino fundamental. Motivo? Trabalho sobre fungos da nossa primeira feira de ciências. Sentamos em frente ao computador. A partir daquela máquina, milhares de conflitos: quem digitaria mais rápido, quem saberia como editar as imagens dos fungos, quem se habilitaria a salvar no disquete. Mas o maior conflito de todos: pesquisar onde, Google ou Cadê?
Lembro como se fosse ontem. A dúvida era cruel. Algumas sugeriam que pesquisássemos num, outras noutro. Ainda lembro da minha opinião: textos no Google e imagens no Cadê. Parecia óbvio para mim.
Ontem, em pleno dois mil e dez, depois de milhares de alterações em milhares de sentidos na minha vida e no mundo, o Google não estava abrindo aqui. E,quando menos percebi, lá estava eu com o site do Cadê aberto na minha frente. A diferença era que eu não estava pesquisando sobre fungos. Não estava na frente da Oca. Estava a alguns vários quilômetros de Cruz Alta. Não tinha a sorte de ter as tais gurias do meu lado literal. Sabia digitar bem mais rápido que naquele tempo. Saberia editar as imagens dos fungos, caso precisasse e até salvaria a pesquisa no disquete, caso ele ainda existisse. Quanto ao maior conflito de todos? A própria internet havia resolvido por mim.
Tudo está sempre em constante mutação e quando menos esperamos nos deparamos com o seguinte questionamento: "quando eu iria imaginar?". Comigo, a resposta é relativa. Mas que causa uma série de reflexões numa cabeça meramente preocupada com a relação passado/presente/futuro, causa. Ah, como causa!
A grande maioria das coisas muda por nossa culpa. Outras são atropeladas e moldadas por internets da vida que resolvem por nós sem que ao menos percebamos.
Tudo que parece óbvio hoje, amanhã mudará. E não vem com esse papo de que "depende de nós" que eu já sei que é verdade. Afinal, hoje tudo é óbvio. Já, amanhã...internets da vida poderão entrar em ação. E quer saber de outra coisa? Entenda como quiser.
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