terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ano colorido

Já parei para me perguntar por várias vezes o sentido de correr atrás de uma cor com determinado significado para passar a virada de ano. Também já me perguntei até que ponto ano novo pode significar uma etapa nova. Já parei para me perguntar se o espírito, roupa ou comportamentos que me constituem na virada fazem ou não diferença na construção do meu ano. A grande burrice minha é que não adianta eu continuar me auto questionando, sendo que a dúvida é justamente minha. Prefiro jogar os questionamentos ao mar, pular três ondinhas, e, simplesmente, acreditar que todas essas superstições podem dar certo. Vale a pena lembrar que, se eu passei a virada de ano com uma certa cor e o significado dela não esteve presente em meu ano, eu, muito provavelmente, não fiz por merecer ou então pesquisei seu significado no site errado.
Lembro de ter passado o Reveillon de 2008 para 2009 com um vestido cor vinho. E, neste mesmo blog, no primeiro texto de 2010, defini que o significado dessa cor seria felicidade, pois foi o que dominou meu coração nesse ano que ainda sinto saudade ao lembrar.
Mas o que vim fazer aqui é lembrar, que, ano passado, pisei com tudo em 2010 com um short branco (que parece ter trazido a paz que eu precisei) e uma blusa colorida. Aí que mora a magia. Como pode fazer tanto sentido? Meu ano foi justamente isso! Colorido!
Calme, não estou dizendo que sei as músicas do Restart de cor e usei calças apertadas. Muito longe disso. Ficaria até triste se eu soubesse que, ao ler a palavra "colorido", você pensou nessa tendência ridícula. Lamento muito ver o mundo deixando-se ir cada vez mais para fundo dos paradigmas. Mas antes de embarcar nesse melodrama, voltarei ao meu ano colorido.
Estamos falando de cores. Cores e seus significados. E é aí mesmo onde quero chegar. Meu ano foi exatamente como a blusa que me acompanhou na visão dos fogos e agora está aqui do meu lado para me ajudar a buscar sentido. Colorido no sentido de completo. Todas as cores, deixando um arco-íris no chinelo, apareceram em dominância, não deixando um significado roubar a cena do outro.
Meu 2010 foi completo. Vivi de tudo. Do pranto ao riso. Minha vida mudou de cabeça para baixo. Mudei de cidade, estado, casa, escola. Posso até dizer que meu sotaque andou tendo alguns altos e baixos. Conheci outro mundo, mesmo estando muito perto do meu. Dormi muitas noites com um rolo de papel higiênico do lado, a fim de enxugar as teimosas lágrimas. Outras noites nem foram dormidas na intensidade de querer aproveitar o momento feliz. Estudei por horas e horas alongando na parede (essa só bailarinos entendem). Recusei convites profissionais por causa de tempo e distância. Escrevi, pela primeira vez, como profissão. Virei amiga de muitos dos meus ídolos. Senti falta. Vi meu corpo mudando aos poucos e até minha panturrilha crescendo.  Conheci pessoas maravilhosas, sem as quais não vou saber viver mais. Valorizei o passado mais fortemente que em qualquer outro momento. Assisti a espetáculos toda semana. Vivi amores, ilusões e desilusões. Tive contato com gente muito importante e, por vezes, me surpreendi com a simplicidade que pode morar nelas. Participei de eventos que nunca imaginaria por os pés. Percebi dificuldades. Vi pessoas novas enxergando as mesmas características que os meus velhos conhecidos viam em mim. Estudei coisas que eu gosto, apesar de ter deixado um pouco de lado a matemática e a física. Senti gosto de chocolate ao dançar. Misturei perfumes. Aprendi a gostar de ballet clássico. Dei cursos. Conheci astros da dança mundial. Entopi o vaso do shopping. Nunca recebi tantos elogios diariamente. Busquei ser humilde em todos os momentos de sucesso. Mergulhei em "mil coisas". Senti a gravidade empurrando meu corpo para baixo e sendo mais forte que eu. Fiz revolução, inclusive em uma instituição altamente tradicional. Entrei, saí e deixei de entrar em elencos. Fui independente (será?). Vi meu currículo fazer: vum! Passei muito mais que 300 horas na estrada. Descobri novas formas de dormir e posicionar o corpo em um ônibus terrivelmente ruim. Estudei literatura no período de física. E química na aula de história. Discuti e percebi o quanto a harmonia do meu nome precisa se fazer presente nos meus dias. Precisei morar na intensidade para controlar algumas dores. Fui a pessoa, bailarina e jornalista mais feliz no maior festival de dança do mundo. Senti depressão pós festival. Me redescobri como professora. Fiz homenagens e surpresas aos mestres e pais. Participei de ensaios virtuais. Sofri com a pressão das decisões. Tentei duos, solos, conjuntos, mas mergulhei num trio lindo e inesquecível. Me vi afogada pelo tempo. Respirei, contei até 8 e mentalizei. Vivi "semanas maratona". Tive síndrome do piriforme. Pensei mais que duas vezes em desistir. Fiquei altamente indignada em ter que fazer requerimentos para coisas que dizem respeito a mim e não a um produto dançante. Tentei forçar sentimentos que meu coração não queria, até entender e me render a ele. Recebi propostas irresistíveis. Aprendi a observar a vida e julgar menos as pessoas que fazem parte dela. Embarquei totalmente na (cri)atividade. Aprendi a sempre ter um guarda-chuva na bolsa. Dei cor ao que se foi. Dancei pela primeira vez em um linóleo branco. Fiz amigos que falam a minha língua. Fiz festa. Me aproximei mais profundamente de Deus. Me atirei em diversos projetos dançantes. Me formei numa formatura que tecnicamente não foi minha. Quis transferir pelo menos um pouco da minha segurança profissional para minha vida pessoal. Contei quase tudo para minha agenda. Confirmei que é exatamente essa vida que quero pra mim.
Além de tantas outras coisas, vi o nome "Kauane Leite" estourar e foi aí que percebi, que sempre preferirei ser a "Kau".
A diversidade de cores da minha blusa fez total sentido. Foi um ano colorido e tanto. Cores de todos os sabores, estilos, sotaques e sensações. Usei minhas tintas para tentar colorir pelo menos um pouquinho das pessoas e do mundo que passei a ter como meu. Espero ter levado, com essas cores, muita luz e poesia a todos que conviveram (mesmo de longe) comigo. E que venha 2011! Mas pode vir preto e branco mesmo. Agora eu já sou craque em colorir.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Palavras voantes

Não resisti. Estou em férias corporal e de horários em Cruz Alta, mas a cabeça continua borbulhando, impedindo que o tédio se aproxime. Aparentemente, estou descansando. Mas minha fábrica de sonhos continua antenada, ligada, produzindo textos, montando aulas, anotando ideias, estudando coisas dançantes e contando qualquer música que apareça.
Estar em casa é bom. E ter milhares de coisas para contar ao blog sem nem saber por onde começar torna-se um pouco perturbador.
Teria que estar escrevendo outras coisas para um dos super projetos que vem por aí. Mas não resisti em fazer pelo menos um contratempo com palavras por aqui.
Queria fazer um resumo do ano, contando algumas loucuras que fizeram minha carreira profissional dar um salto super impulsionado por um plié gostoso, como diria meu professor de ballet clássico.
Queria poder falar sobre a forma que passei a enxergar certas coisas desde que meu ano começou.
Queria poder gritar aliviada e feliz ao saber que meus amigos têm arrebentado nos vestibulares e que eu escapei dessa esse ano.
Queria poder fazer críticas, de arte e de vida. Se é que elas não são a mesma coisa.
Queria poder falar sobre algumas pessoas que ganharam meu coração esse ano, me ajudando a enxergar ainda mais quem é a Kauane e me acompanhando num mundo que eu quero ter para mim sempre.
Queria poder falar dos tantos projetos sonhados em 2010 e que tomarão meu tempo e prazer em 2011.
Queria ensinar tudo que aprendi apenas com um olhar.
Queria tanta coisa nesse post. Queria e quero.
Quero-quero. Como o pássaro. Mas, para continuar na inspiração dele, vou deixar essas palavras e quereres apenas voando por aqui...