quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

SEGUNDO TRÊS



Segundo três não é uma série seguida de uma turma.
Uns vieram daqui, outros dali. Cada qual com sua identidade, propícia à construção de uma família de amigos. Uma família de irmãos.
São pessoas que se gostam, se divertem e acima de tudo dependem umas das outras. Como uma vovó dependente de um jovem para atravessar a rua. Ou mesmo a dependência mútua entre cupins e protozoários flagelados.
Foram momentos vividos juntos. Tardes faceiras, manhãs sérias, intersséries goleadoras, amigos secretos de abraço, de caixa de bombom ou sei lá. Foram imitações, festas, gritos de guerra! Cursinho, idas ao posto, arranca, viagens. Foram cantorias, choros e brigas. Foram discussões, verdades e mentiras.
Que atire a primeira pedra aquele que não lembra da viagem à Viamão! Ou aquele que não chorou na festa supresa do João pelo simples fato de pensar que um dia todos vamos nos separar. Vá, atire a primeira pedra se não falou "gozado", não riu do Henrique, não gritou "TU NASCEU ASSIM?", não tirou com o Larry, não desejou "boas férias", não se surpreendeu com a inteligência ou talento de alguns dos "segundostreceeiros", não ganhou um desconto do pai do Alisson depois de enxer a pança no Buon Mangiare e ir para a praça brigar com o tio que não deixa a gente brincar na pracinha, não andou de bicicleta e parou na Gabi para tomar água, não foi pra Cipriana, não deveu o Juri, não passou trote pro Viiiiiiiirmut, não participou de uma yare yare do Antônio, não se influenciou pela gostosa risada do João, não gritou ÓOO MENINO ou não fez a folia quando o Fernandão ou o Fonso entraram na sala.
Eu não sou a Gabriela, não lembro de nem metade das coisas que poderia lembrar. Eu apenas acumulo a ideia de que vivi momentos inesquecíveis e construí amizades lindas e eternas. Daquelas de tirar o folêgo. Daquelas de transbordar amor.
Uns dizem que foi milagre tanta gente cabeça, madura e pé no chão ter se encontrado num mesmo estado, numa mesma cidade, numa mesma sala de aula. Mas isso não foi milagre, afinal ninguém nasceu assim. Se somos assim, movidos a cabeças pensantes e sensiblidades a flor da pele, foi porque crescemos juntos e cada um da sua forma calaborou para que nos tornassemos como somos hoje. Somos apenas o fruto de nossas escolhas, reflexos de nossa família e das pessoas que convivem conosco. Se somos assim é porque somos moldados a cada dia um pelo outro, através de influências que passam despercebidas por nós.
Eu sei, isso está parecendo um descurso de final de terceiro ano. Mas e daí, né Antônio?
Odiei esse texto, parece de terceira série. Mas tudo bem, foi justamente lá que a gente se uniu.
O fato é que eu precisava dizer que aquela história de que só dão valor depois que perdem não cola. Primeiro porque eu não vou perder vocês nunca. E, depois, porque vocês não tem noção do quão valiosos são pra mim.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Improvisação em Dança


Há várias formas de se entregar à improvisação. Umas delas, a mais mesquinha, é aquela na qual há a simples falta de um coreógrafo. Lamento informar, mas foi assim que me aproximei da dança enquanto improvisação.
Aos 13 anos, pela primeira vez, fui jogada sobre um palco e, movida a partir de uma pesquisa pouco pincelada, encarei o desafio de improvisar perante um platéia inteira.
Hoje, depois de passado dois anos e 730 dias de constante pesquisa, ainda posso afirmar que improvisação é uma das coisas que mais gosto de fazer quando se trata de expressão artística.
Improvisar é estar consciente e inconsciente ao mesmo tempo. É ter noção do que se faz, concomitantemente em que não se sabe o que se está fazendo. Improvisar é se utilizar de vivências. De insights. De repertórios corporais pré-estabelecidos.
Improvisar, ao contrário do que muita gente pensa, não é para qualquer um. Mexer o corpo de um lado para outro, correr saltar e pensar, que, só porque está inventando tudo na hora, é improviso é coisa de quem não sabe nada. E para improvisar tem que saber. Pelo menos alguma coisinha desta vida! Porque para improvisar é necessário uma somatória de momentos já vividos, milhares de histórias para contar e uma necessidade monstruosa de estabelecer contato com qualquer segmento que for, através desta comunicação propícia a quem quer conversar através do corpo.
Linguagem poética, estética ou não, a improvisação em dança nos liberta. Particularmente, um movimento improvisado soa mais verdadeiro que muitos coreografados, porque improvisar é presente. E presente num sentido ambíguo. É presente de agora, de momento, em que na criação não há tempo para pensar duas vezes. Ao mesmo tempo, em que aquele que improvisa é um grande presenteado. Poderia ficar horas contando do quanto me tornei uma pessoa mais segura, autoconfiante, ousada e criativa depois que comecei a improvisar. Confiar apenas em si mesmo, nas bagagens de seu próprio corpo e na explosão emocional que bombardeia a alma do bailarino é um desafio. E que desafio! Mas, felizmente, um desafio que me alimenta e me faz querer improvisar mais e mais. Desde a uma improvisação cobrida por holofotes e milhares de olhares até uma improvisação para o simples pegar um lápis que cai no chão. Dançar a vida, a cotidiano, o agora: eis o grande barato desta corrente da dança contemporânea surgida no início dos anos 70 e que continua frequente e cada vez mais desafiadora até hoje.
O que penso enquanto estou improvisando? Nada. Apenas sinto. Pois improvisar é sentir. E sentir é querer improvisar mais e mais...até que meu corpo me conduza, quase que involuntariamente, a improvisar mais uma vez, só se calando na hora de começar de novo.