terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ballet clássico para bailarino contemporâneo. Pra quê?

 


O povo do contemporâneo questiona. E, após poucas aulas de ballet clássico, o próprio corpo responde ao questionamento.
Há companhias de dança que buscam bailarinos desvinculados das limitações do ballet clássico. Há também algumas que buscam pessoas que nunca dançaram, a fim de obterem criações sem vícios e, por isso, com uma pré disposição para inovações. Mas, não há quem negue, a grande maioria das companhias de dança contemporânea do Brasil e do mundo exigem bailarinos com uma base clássica fundamental, para, a partir dela, fazer uso de corpos bem trabalhados.
O ballet clássico, através de sua aula sistemática e disciplinada, dá a limpeza e técnica necessária ao bailarino contemporâneo para desenvolver, com qualidade, uma desfragmentação deste sistema, propícia à comunicação corporal que se quer estabelecer. O verdadeiro exercício da repetição. E, a cada nova aula, articulações mais lubrificadas e músculos mais flexíveis.
"Fundamental" seria a palavra que melhor descreve o papel da aula de ballet clássico no corpo de um bailarino contemporâneo. Porém, como tudo que é contemporâneo está sempre em constante discussão e mutação, é preciso ter vários cuidados.
Segundo Laban, a diferenciação das modalidades de dança devem-se provavelmente aos hábitos de trabalho dos períodos em que surgiram ou foram criadas. O ballet clássico provém do gestual nobre, luxuoso e magestral da época em que começava a ganhar espaço. Época de Luiz XIV, na qual houve a inspiração num vestuário e estilo de extrema nobreza, inspirado nas impressões daquele tempo. Suas posições e sistemas também podem ser explicados através do que acontecia naquele determinado período. Por exemplo: "O “En Dehors” (para fora), posição em que o bailarino apresenta-se com as cochas, joelhos e pés girados para fora da linha central do corpo, fazendo uma rotação externa da articulação coxo-femoral, foi criada quando o balé de corte começou a ser levado para os palcos italianos, em que a platéia assistia ao espetáculo de frente, e não mais como nos salões reais, sobre as bancadas e camarotes, vendo-os de cima. Então, para que o artista nunca se coloque de costas para o público, composto de nobres e convidados, cria-se esta posição aberta que ao dançar de uma diagonal a outra se evita ficar de costas para o público". (Site InfoEscola)
Já a dança contemporânea surgiu a partir de uma rebelião, como forma de protesto e busca por novos experimentos de uma sociedade a fim de inovações. Em plena década de 50, ela surgiu e se desenvolveu buscando acompanhar seu tempo, a partir de novos segmentos e propostas de criação. Dentro disso, podemos lembrar a forte referência chamada industrialização, que, voltando ao pensamento de Laban, pode ter sido uma grande influência ao modo contemporâneo de se movimentar.
Ou seja, apesar de o bailarino contemporâneo ganhar muito com a técnica clássica é preciso saber distinguir uma coisa da outra. Ballet clássico é ballet clássico. Dança contemporânea é dança contemporânea. A diferença começa pelo contexto histórico e intencional e deve ser visível corporalmente.
Então, bailarinos contemporâneos, aí vai meu clamor: que o ballet clássico seja sempre bem vindo em nosso instrumento de produzir arte e que aprendamos a aceitar ele de forma bem vinda e constante. Porém, que saibamos ter o controle dele em nossos corpos, para podermos desconstruí-lo de forma criativa e qualificada.
Traduzindo em palavras o que o corpo nos responde a partir do tal questionamento: ballet clássico para bailarino contemporâneo é para que possamos dominar a técnica e não para adotar ao vocabulário. Um vocabulário que deve se utilizar com consciência da técnica clássica, mas não se limitar a ela.


Obs.:Sendo assim, a partir deste texto e de uma sugestão da minha atual professora de clássico, Germana Saraiva, declaro paz entre a Kauane e a as aulas de ballet clássico! Uma paz produtiva, consciente, movida à superação e, se não for pedir muito, duradoura.

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