A inspiração não parte do que se espera ver no final. A ideia não surge ao pensar no resultado estético. As pequenas e grandes criações partem do simples, rotineiro, trivial...pelo menos pra mim. Mas, independente de onde parte, a criação tem um propósito. E, caso não tenha, assumindo uma determinada forma, passa a ter.
Tal propósito varia de ano pra ano, coreografia pra coreografia, espetáculo pra espetáculo, de tempos em tempos. Os objetivos são diversos, mas o foco é o mesmo. O foco é concentrado naquele que sai de casa, transporta-se até o teatro, enfrenta fila, paga ingresso e merece, no mínimo, sair de lá diferente de como entrou.
É pra ele que eu faço arte! É pra ele a minha crítica, meu grito, meu desabafo cênico.
O meu maior desejo é que ele embarque lagarto, rasjejando aos meus pés para ver algo decente, e que, no decorrer da viagem que ele me permite guiar, transforme-se em borboleta. Não necessariamente nessa ordem. Não necessariamente assim.
Eu já quis provocá-lo, perturbá-lo, fazê-lo pensar. Já quis agradar, fazer rir, surpreender. Vou querer muito nessa vida e, provavelmente, vou discordar diversas vezes das minhas próprias ideias anteriores. O fato é que, agora, exatamente às 19h01min de uma terça-feira bonita em Joinville, eu quero simplesmente ALIMENTÁ-LO. Porque o que ele parece é estar morrendo de fome...
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