domingo, 9 de maio de 2010

Aplausos às Mães de bailarinos

Os pés doem, a cabeça gira e o corpo implora por um abraço. Durante um dia inteiro, do corpo foi exigido e ele, sem pensar duas vezes, seguiu os comandos da mente e se deixou levar pela arte de produzir movimentos. O que ele mais quer depois de um dia de aulas e ensaios? Simplesmente aquele olhar sincero transbordando amor e apoio.

Este olhar pode ser expresso através de um abraço, de um sorriso, de um beijo estralado...ou então, de um simples “preparar a janta”, “lavar o collant”, “carregar as sapatilhas”. Desde que seja da minha mãe, o olhar aquece meu coração de bailarina.

Não tenho dúvidas de que isso não ocorre só comigo, mas sim com milhares de pessoas que se doam à arte da dança por inteiro, mesmo que, como eu, não tenham suas mães por perto no dia-a-dia. Nesses casos, o amor ultrapassa fronteiras e a profissão “mãe de bailarina” torna-se ainda mais desafiadora. Afinal, não é para qualquer um conseguir transmitir toda essa energia que somente elas nos passam apenas por telefone. Que desafio, hein!

Mas isso não é nada perto do que elas são capazes de fazer. Não fazem pliè, mas se agachariam quantas vezes fossem necessárias para juntar nossas bagunças. Não giram piruetas, mas giram o mundo por festivais, cursos e apresentações ao nosso lado. Não contam a música, mas muito já nos embalaram com canções até que dormíssemos. Não têm bolhas nos pés, mas são elas que sentem as dores por nós. Não fazem grandes saltos, mas, sem dúvida alguma, nos dão o impulso maior para que possamos voar.

Ser mãe de bailarina é dançar com a alma. Dançar com o amor que elas nos transmitem a cada momento. Dançar de maneira a estar entregue a qualquer necessidade nossa. Ser mãe de bailarina é sentir orgulho e transformá-lo em incentivo. Ser mãe de bailarina é ter a confirmação de que nós, bailarinos, além de felizes pela presença delas, somos eternamente gratos por cada olhar. Seja ele expresso da maneira que for.

Sendo assim, movida por saudade e amor, declaro oferecido a ti, mãe, o que mais gosto de receber ao fazer o que me faz bem: aplausos, aplausos e aplausos. Aplausos à minha e a todas as mães de bailarinos. E não para por aí: declaro oferecidos a vocês pelo menos metade de todos os aplausos que recebemos e ainda haveremos de receber ao longo de nossas vidas dançantes, como forma de gratidão e reconhecimento por tudo que fazem e, se não for pedir muito, ainda farão por nós.
 
Publicado no jornal "A Notícia". Joinville, domingo, 9 de maio de 2010
Publicado no blog da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil: http://www.escolabolshoi.com.br/blog/?p=1093

2 comentários:

  1. Chiquérrrrrrrrrrrrrrima!

    Amei o texto..você é maravilhosa Kau!

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  2. Perfeito *-* amei o texto, me emocionei muito... concordo com tudo!

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