Uma página em branco nem sempre é uma suficiente motivação para a escrita. O que fazem as letras dançarem são os momentos, as lembranças, as conquistas, derrotas, amores e contatos. As palavras só dançam na batida que desencadeia o ser, o estar, o pensar, o agir. As palavras só dançam na batida vital. Batida inconstante, mas freqüente.
Eis aqui elas, então, dançando mais uma vez. Na certeza de que, se o corpo, ao dançar é feito de sensações, as palavras, ao dançarem, assim serão também. Até que alguma experiência nos aponte outro caminho.
Mas, independente dessas pseudo-demagogias iniciais, quero falar sobre outros instrumentos dançantes, além do corpo e palavra. E faço o texto surgir a partir de uma pergunta. Pois, após a construção de alguns espetáculos, percebo que elas são o ponto de partida gerador de diversos caminhos, constituindo um conteúdo rico e instigador. Perguntar é esperar. E esperar é nunca estar satisfeito. É querer mais. Não se contentar com o hoje, o agora. É lembrança e sonho na mesma partitura. É passado, presente e futuro cantando a mesma canção. É pergunta, questionamento, ousadia.
Sendo assim, surge a questão do texto de hoje: O que mais pode ser dançante?
Olhares podem dançar conectados com o rumo espacial? Lágrimas dançam sobre rostos que imploram mais luz? Escolhas dançam também? Até que ponto elas seguem a contagem ou então fogem, repentinamente, do ritmo, buscando novas saídas? Nosso jeito de ser e agir com as pessoas dançam nos níveis alto, médio e baixo? Ou são as lembranças que dançam nos planos sagital, vertical e horizontal como propôs Laban ao estudar o espaço? Nossa vaidade dança necessitando de um espelho ou são as nossas próprias emoções que não conseguem refletir por si só?
Será que a vida é dançante? A vida tem contagem? Tem sensação? Tem técnica? Tem comunicação? Pode ser que sim, pode ser que não. O fato é que, independente de qualquer fator, ser dançante é apenas estar entregue além da carne, além da alma. E, desta maneira, tudo que entregue e ilimitado for, dançante será.